Eu (paciente)

Há um tempo atrás, vivi a experiência de ser paciente! Tive um probleminha no estômago e precisei fazer uso de medicação regular por 2 meses. O resultado do tratamento foi catastrófico! Como quase todo paciente, eu não fiz o uso regular da medicação e os sintomas da doença não acabaram...A situação só foi resolvida quando meu marido começou a pegar no meu pé e passou a me dar o remédio diariamente (igual fazemos com as crianças!!!). Mas, a solução não durou por muito tempo porque os nossos horários não coincidiam sempre. Então, ele teve a excelente ideia de passar a missão da administração do comprimido para a Cátia, a nossa ajudante do lar! A Cátia assumiu brilhantemente a função e todos os dias de manhã ela me perguntava: “Já tomou seu remédio?”. Até nos dias de folga ela me mandava mensagem de manhã para me lembrar de tomar o remédio. Assim, o tratamento foi eficiente e fiquei livre do desconforto!

Com vergonha por ser uma péssima paciente, comecei a analisar minha situação e percebi que esse problema não é só meu! Durante a faculdade, tive várias aulas para aprender que o maior motivo de falha de tratamento e a falha da adesão! Ou seja, o paciente é atendido pelo médico, recebe orientações e uma receita, mas por diversas razões, ele não faz o tratamento proposto!

As razões para a baixa adesão são desde a famosa “correria do dia-a-dia” até a falta de recursos cognitivos para entender o tratamento! Sim!!! Isso é real! O paciente não entende o que o médico orienta, mas fica com vergonha de dizer que não entendeu! Ou, ainda, o paciente não consegue ler as orientações escritas! Isso é tão grave, que na minha época de residência, eu percebi que muitos dos meus pacientes eram analfabetos! Moral da história: eu passava meu horário de almoço confeccionando caixas de medicamentos feitas com caixa de sapatos e cartolinas coloridas, com desenhos de sol, de lua, etc para que eles soubessem a hora certa de tomar o remédio!

Refletindo ainda mais sobre esse contexto, percebi que muito pouco é feito para levar soluções viáveis para esses pacientes. Operadoras de saúde investem alto em bons profissionais, credenciam bons serviços, mas pouco fazem para aumentar a adesão ao tratamento e o desfecho acaba sendo desfavorável!

Como sou defensora da tecnologia, acredito que ela é uma grande aliada das estratégias para suprir essa carência! Nas unidades em que monitoramos pacientes, utilizamos uso de mensagens (e até contato telefônico) para lembrar o paciente a usar a medicação. Fazemos acompanhamento do progresso das prescrições sociais (não medicamentosas) e oferecemos diversos canais para que o paciente se engaje mais no auto cuidado! Além disso, sempre abordamos o paciente no pós alta hospitalar para saber se ele conseguiu acessar os medicamentos prescritos, se já agendou sua consulta de retorno, se tem alguma dúvida quanto ao seu cuidado e ainda captamos informações sobre sua experiência durante a internação! Assim, seu eu voltar a precisar de medicação regular, vou ser inserida nessa linha de cuidado e posso dar folga para a Cátia!

Para promovermos mudanças reais no mercado de saúde, precisamos de fato colocar o paciente no centro do cuidado e isso passa, principalmente, por compreender suas fraquezas, entender suas necessidades e desenvolver estratégias para supri-las!

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