Reino Unido caminha rumo à eliminação dos casos de Hepatite C

Um novo relatório da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido detalhou o progresso do país no combate à Hepatite C. Nele é possível identificar uma queda de 31% nas mortes relacionadas à doença de 2015 para 2020. E para o número de casos, uma expressiva queda de 47%, considerando os dados coletados entre 2015 e 2021.

Para os autores do levantamento, o país vem colhendo esse êxito através de esforços múltiplos: do NHS (National Health Service, Serviço de Saúde Nacional do Reino Unido), do serviço prisional, da assistência social, do setor de voluntariado e da indústria farmacêutica. Cada um mobilizado e empenhado em seu papel, mas trabalhando em uma parceria harmônica buscando formas de identificar e tratar pessoas com HCV, o vírus da hepatite.

Um exemplo disso é o acordo da NHS firmado em 2019 com validade de 5 anos com fabricantes de antivirais de ação direta, que visa não apenas o abastecimento dos medicamentos utilizados, mas também o envolvimento deles na busca ativa por detecção de novos casos. Isso porque, quase 90% dos casos de hepatite C do Reino Unido são oriundos de usuários ou ex-usuários de drogas injetáveis, o que torna o trabalho isolado do sistema de saúde ineficiente.

Outras iniciativas valem ser citadas, como o fato de vans de assistência acompanharem através de visitas, locais onde a população em situação de risco se reúnem, seja ao ar livre ou em albergues. Mais de 27.000 pessoas encarceradas foram testadas para HCV. Instalações de teste foram estabelecidas em farmácias, com a intenção de atrair pessoas que acessam programas de troca de agulhas ou terapia de substituição de opiáceos. Vários departamentos de emergência na Inglaterra iniciaram exames de sangue para HCV. Programas peer-to-peer liderados por indivíduos com experiência vivida de hepatite C ajudaram a trazer mais de 5.000 pessoas para o tratamento.

Como se sabe, é a OMS (Organização Mundial da Saúde) quem define as métricas de aceitação (ou não) de incidência de doenças nas regiões. Desse modo, seguindo a definição da própria OMS, para que um país seja classificado como tendo eliminado o HCV crônico como uma ameaça à saúde pública, é preciso que a incidência anual do vírus não seja superior a cinco por 100 mil habitantes e uma mortalidade anual menor ou igual a dois por 100 mil habitantes. O Reino Unido busca atingir essa meta até 2030, junto com Austrália, Egito e Japão.

Nesse sentido, o relatório alerta as autoridades competentes para a possibilidade do não cumprimento desse objetivo no tempo estabelecido. Isso porque, dados divulgados pela Health Security Agency ainda em 2019, davam conta que 44% dos usuários de drogas injetáveis no Reino Unidos não tinham suprimento adequado de agulhas e seringas limpas. O que pode impactar de forma negativa os registros futuros de novas infecções.

O estudo finaliza com o posicionamento de Stephen Willott (clínico geral da clínica Windmill - Nottingham, Inglaterra- e líder clínico para abuso de álcool e substâncias e vírus transmitidos pelo sangue na Câmara Municipal de Nottingham) que demonstra a necessidade de um maior envolvimento e responsabilização por parte do Estado. Ele sugere que o governo considere a introdução de instalações de consumo monitorado, onde os usuários de drogas recebam agulhas limpas, além de imediato atendimento em caso de overdose. Para ele, essa atitude soaria mais que uma proposta de redução de danos, mas seria uma forma de envolvimento direto dos profissionais da saúde com esse contexto de deterioração na saúde pública.

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