Curar algumas vezes, aliviar quase sempre, consolar sempre

Hoje meu dia de trabalho começou com uma mensagem da coordenadora de enfermagem da maternidade: "Doutora, estamos com um recém nascido muito grave!". Imediatamente, acessei o sistema para verificar a situação da criança e tomar as providências necessárias para que ele recebesse o melhor cuidado possível.

Ao avaliar os dados cadastrais, percebi que era uma criança especial! Havia nascido com alguma síndrome que comprometia o funcionamento de vários órgãos, entre eles, o coração. Seu quadro clínico era crítico e o prognóstico era muito ruim.

Fiz o que estava ao meu alcance pela criança e segui realizando minhas atividades diárias. Tinha muitos problemas para resolver e estava bastante angustiada com algumas questões do trabalho, o que prejudicava minha concentração.

Após algumas horas, entrei novamente em contato com a enfermeira para saber a evolução do quadro do recém nascido. As notícias não eram boas... Apesar de todo o esforço da equipe assistencial, a criança não evoluía bem!

Pouco depois, recebo uma mensagem informando que a criança não havia resistido. Aquela notícia apertou ainda mais meu coração que já estava triste por causa dos problemas do trabalho... Resolvi ir até a maternidade a fim de verificar se havia algo mais a ser feito pela família que acabara de perder um bebê.

Assim que entrei no berçário, vi a mãe com um bebê pequenino no colo. Ela chorava muito! Não um choro de desespero, mas um choro de dor, de tristeza... Estava sozinha com seu filho sem vida nos braços. Aquela cena me fez pensar no meu filho. A mãe, que estava ali à minha frente, não teria a alegria de chegar em casa e ser recebida por um sorriso de criança como eu sou recebida todos os dias. Ela não teria o prazer de ouvir seu filho a chamando de mamãe. Ele seria privada de sentir o cheirinho do seu bebê todos os dias antes de dormir...

Pensando nisso tudo, percebi o quanto os problemas do trabalho que estavam me afligindo eram insignificantes. Diante da dor daquela mãe tudo mais parecia pequeno e sem importância.

Caminhei, então, em sua direção, me apresentei, a abracei e ficamos ali olhando para a criança e chorando juntas...

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