Epidemia de Dengue e gestão: poderia ser diferente?

Todos os dias os jornais têm apresentado matérias sobre o alto número de casos suspeitos de dengue pelo Brasil. Em comparação ao ano passado, houve um aumento de mais de 200% nos casos. Alguns estados têm números ainda mais alarmantes, como é o caso de Minas Gerais em que o aumento foi de mais de 1000% em comparação ao ano anterior.

Observando os atendimentos aos pacientes em Minas Gerais, chama atenção a superlotação das unidades de saúde. As UPAs estão lotadas e os pacientes ficam muitas horas aguardando avaliação médica. As unidades básicas de saúde também tiveram sua rotina afetada pela epidemia e os médicos de família ficam divididos entre os atendimentos de urgência e os atendimentos rotineiros das famílias sob sua responsabilidade. Nos serviços privados a realidade não é diferente: alta procura por atendimento, pacientes insatisfeitos com a demora na avaliação e profissionais de saúde sobrecarregados.

Olhando esse cenário, devemos sempre pensar se seria possível ser diferente. Obviamente, se as ações de prevenção com combate aos focos do mosquito, educação da população, treinamento das equipes assistenciais tivessem sido eficientes, esse caos não estaria instaurado. Mas, como não é possível voltar no tempo, o que é possível fazer agora para minimizar os impactos da alta demanda por atendimentos?

Em unidades de saúde em que há gestão eficiente, os planos de contingência entram em ação a fim de reorganizar a estrutura vigente, aumentando a segurança do paciente na instituição e garantindo assistência de qualidade aos pacientes. Esses planos são capazes de determinar a necessidade de aumento de recursos humanos (com base no número de atendimentos realizados e no perfil da unidade),  de suprimentos, de suporte de prestadores e podem, inclusive, alterar o fluxo assistencial, ativando setores específicos que outrora não eram utilizados com a finalidade assistencial.

Outras medidas importantes são as mudanças de fluxos que visam a redução de desperdícios, dando mais celeridade aos processos de triagem e atendimento. Um exemplo disso é o uso de checklists elaborados a partir do protocolo de manejo clínico do paciente com suspeita de dengue. Com o uso da ferramenta é possível determinar quais pacientes têm necessidade de realizar hemograma, por exemplo, e a solicitação já é feita nos primeiros minutos do paciente na unidade. Desse modo, quando da avaliação médica, os parâmetros laboratoriais já estão disponíveis e a conduta médica pode ser definida com mais precisão e agilidade. Os checklists também permitem filtrar os pacientes que necessitam de suporte especial em função de sua condição clínica ou social, como gestantes, idosos e hipertensos.

Ainda com o intuito de aumentar a agilidade do atendimento sem diminuir a qualidade da assistência, é possível organizar impressos com orientações aos pacientes que precisarão ser monitorados ao longo dos próximos dias e, ainda, disponibilizar vídeos educativos com os cuidados necessários e os sinais de alerta para desfechos desfavoráveis. Os pacientes podem ter acesso a esses vídeos nas salas de espera das unidades.

Por fim, mais do que criatividade, o planejamento das ações é essencial para que apesar do aumento da demanda, as unidades consigam dar suporte de qualidade e em tempo hábil a todos os pacientes que procuram os serviços de saúde. E, o que também é importante, sem aumento desnecessário de custo para as unidades.

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