Formei e quero empreender! E agora?

Muitos estudantes de medicina já têm em mente que, assim que possível, irão se tornar empreendedores e realizar o sonho do consultório próprio. Mas, a abertura de um consultório médico ou clínica é carregada de diversas obrigações e necessidades gerenciais, inclusive do ponto de vista da legalidade, o que torna o desafio ainda maior, principalmente para jovens formandos. Desse modo, esse artigo pode orientar futuros empreendedores da área da saúde, com um verdadeiro passo a passo dentro desse universo de exigências burocráticas para dar um pontapé inicial ao seu próprio negócio. Abaixo você irá encontrar sete tópicos, destrinchando cada etapa.

 

1 - PLANO DE NEGÓCIOS

 

Um dos grandes erros de um futuro médico empreendedor é não absorver a ideia que, além de atuar como médico, ele irá gerir um negócio. O ideal é estar orientado por profissionais capacitados? Sim! Mas, na maioria dos casos, com pouco recurso financeiro, o necessário vai ser dominar um pouco de cada área e de maneira progressiva e consciente, contratar mão de obra especializada.

Um plano de negócios é fundamental. É nele onde vai ser registrado como seu negócio vai agir de forma estratégica e segura. Importante reforçar que, embora saúde seja um serviço de primeira necessidade e estar, na maioria das vezes, em nichos bem desenhados e específicos, todo consultório ou clínica precisa gerar valor. Esse é o princípio básico de um negócio saudável e promissor.

Esse plano de negócios deverá ser redigido e ele vai direcionar o funcionamento da empresa. Alguns tópicos a serem abordados neste documento:

Dados sobre a concorrência;
Pesquisa e análise de mercado;
Diferenciais ofertados;
Aspectos burocráticos;
Viabilidade financeira;
Posicionamento de mercado;
Público-alvo;
Localização.

 

2 - REQUISITOS LEGAIS

Estar em dia com as obrigações legais para abertura e funcionamento de seu consultório e/ou clínica médica é essencial para a existência da empresa, visto que manter-se de forma irregular pode causar até o fechamento da empresa. Atente-se às necessidades legais:

 

Definindo o tipo de estabelecimento:

O Órgão Brasileiro responsável pela classificação de unidades de saúde particulares é o Ministério da Saúde. O Órgão disponibiliza 25 categorias de estabelecimentos de serviços de saúde, que deve ser analisado de acordo com a proposta de serviços a serem ofertados pelo futuro empreendimento (aqui o plano de negócios faz a diferença!). O tipo de estabelecimento decorre das atividades desenvolvidas, sendo que as atividades estão relacionadas a códigos de atividade atrelados ao CNPJ da futura empresa.
Estes códigos estão previstos na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), que é uma classificação oficialmente adotada pelo Sistema Estatístico Nacional e pelos órgãos federais gestores de registros administrativos. De modo geral, as sociedades médicas estão atreladas a ordem hierárquica Seção Q (saúde humana e serviços sociais) e Divisão 86 (atividades de atenção à saúde humana). Porém, dentro dessa seção 86, temos diferentes grupos, que por sua vez abrigam classes e subclasses ainda mais detalhadas. Sendo assim, seria muito interessante alinhar essa parte aqui com o contador, pois a classificação tem impactos fiscais e cadastrais.

 

Alvará Municipal:

O Alvará é o documento que permite o funcionamento do estabelecimento. Ele é emitido pela Prefeitura Municipal, desse modo, deve-se checar diretamente junto ao Órgão todas as especificidades requeridas, que naturalmente podem variar de uma localidade para outra. De um modo geral, a expedição do Alvará analisa diversos documentos, tais quais: requerimentos, documentos pessoais do requerente, contrato de locação, cópia/dados do IPTU do imóvel, laudos de segurança, planta do imóvel, atestados e declarações.

 

Vigilância Sanitária:

A Vigilância Sanitária é um outro braço do poder público que atua para proteger e promover a saúde humana, evitando que a população fique exposta a condições que coloquem em risco seu bem estar. Para cada tipo de serviço prestado (serão considerados todos os códigos das atividades desenvolvidas no estabelecimento) e grau de periculosidade sanitária dentro das atividades da empresa, são exigidos tipos e quantidades diferentes de documentos que comprovem que a mesma está dentro dos parâmetros exigidos.

 

Corpo de Bombeiros

Visando também a segurança de pacientes, funcionários e visitantes gerais do estabelecimento, cada Estado estabelece regras junto ao Corpo de Bombeiros para prevenção de incêndios e calamidades estruturais em edifícios comerciais. O laudo que libera o funcionamento do local comercial é obtido depois de uma vistoria técnica por parte do Corpo de Bombeiros e caso seja identificada falhas ou possíveis gatilhos que interfiram na segurança de terceiros, as adequações necessárias serão sinalizadas, devendo o requerente de imediato realizar as ações de adequação.

 

Cadastro na Limpeza Urbana

O lixo produzido por clínicas e consultórios não é o mesmo dos produzidos nos domicílios. Ocorre descarte de materiais específicos como luvas, agulhas, remédios, podendo esses itens contaminarem a população, bem como o meio ambiente. Desse modo, deverá realizar o cadastro junto ao Departamento de Limpeza da Cidade, que é o responsável pela liberação do certificado necessário para o devido cadastro da coleta.

 

3 - CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA ESPECIALIZADA

 

Questões financeiras exigem acompanhamento constante, desde o planejamento do seu negócio. Uma boa gestão financeira é um ponto central do futuro negócio e um relacionamento próximo e transparente de seu contador vai fazer total diferença no crescimento do seu negócio.. De forma ampla, podemos pontuar alguns aspectos gerais que devem estar sempre no seu radar de amplo conhecimento:

Demonstrativo de resultado (custos, despesas, margem de lucro).
Fluxo de Caixa (entrada/saída).
Fluxo de Caixa Projetado (contas a pagar e receber).

 

4 - ESTRUTURAÇÃO JURÍDICA

 

É necessário constituir uma sociedade médica. E é justamente nesse momento que você deverá implementar as diretrizes do seu plano de negócios anteriormente elaborado, concretizar a escolha do tipo societário, implementar o regime tributário mais benéfico e registrar os códigos de atividade mais condizentes com sua atividade. Aqui também são formalizados possíveis acordos laterais com os sócios envolvidos e formaliza o Contrato Social. Por fim, deve-se registrar a empresa junto ao CRM.

 

5 - ESTRUTURA DO CONSULTÓRIO OU CLÍNICA MÉDICA:

 

Além das normas municipais e estaduais, os estabelecimentos da área da saúde precisam atender às regras impostas pela Resolução n.50/2002 da ANVISA, sob pena de impossibilidade de obtenção do Alvará Sanitário. Essas exigências irão variar de especialidade para outra, então é de extrema necessidade consultar o órgão regulador.

 

6 - EQUIPE:

 

A quantidade de funcionários dependerá do tamanho da sua empresa e dos tipos de serviços ofertados. Porém, dificilmente funcionará bem sem ter ao menos uma secretária e um profissional de limpeza. Esse é um quadro mínimo e futuras adequações poderão ser feitas. Importante mencionar aqui que, com a ampliação do negócio, outras especialidades médicas podem se fazer necessárias. Desse modo, opte por um imóvel com possibilidade de expansão.

 

7 - MARKETING E DIVULGAÇÃO

 

A comunicação é um ponto importante para qualquer modelo de negócio, logo que se seu público não conhece a oferta de seus serviços, sequer há a possibilidade de despertar o desejo de utilizá-los quando necessário. Divulgar sua clínica médica requer diversos olhares para várias áreas, como o branding, identidade visual, marketing digital, canais de comunicação, dentre tantas outras particularidades estratégicas para se alcançar seu público de maneira efetiva.

 

Agora que você já tem posse desse Manual de como se tornar um empreendedor na área da saúde, é só colocar em prática, com muito foco e atenção. Mãos à obra e boa sorte!

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