Molnupiravir pode estar contribuindo para o aparecimento de novas variantes do SARS-CoV-2

Estudos recentes indicam que o antiviral Molnupiravir, produzido pela Merck & Co., pode estar impulsionando o aparecimento de novas variantes do SARS-CoV-2, gerando preocupações de que possa prolongar e até revigorar a pandemia. Uma pesquisa de genomas virais relatada em uma nova pré-impressão sugere que algumas pessoas tratadas com a droga geram novos vírus que não apenas permanecem viáveis, como se espalham.
Autorizado no Reino Unido e nos Estados Unidos no final de 2021, o Molnupiravir foi o primeiro antiviral oral aprovado em qualquer lugar para combater a COVID-19. Desde então, foi autorizado em dezenas de outros países. Em 2022, a Merck estimou as vendas globais do composto em mais de US$ 5 bilhões. Embora esteja bem abaixo dos US$ 18,9 bilhões em vendas em 2022 do Paxlovid, outro antiviral oral SARS-CoV-2, o Molnupiravir continua amplamente popular em alguns países.
À frente desse estudo, o virologista William Haseltine, presidente da ACCESS Health International, sempre demonstrou preocupação com o mecanismo da droga, que envolve a introdução de tantas mutações no genoma viral que ele não pode mais se reproduzir. Ele chamava a atenção para o fato que o medicamento pudesse sofrer mutações não apenas no Coronavírus, mas também no DNA das pessoas que o receberam (efeito colateral que não foi observado até agora). Outro ponto era que o vírus mutante sobreviveria e se propagara, podendo se tornar mais transmissível ou virulento do que antes.
Com esse alerta dado, vários pesquisadores e cientistas de todo o mundo começaram a escanear as sequências do genoma do SARS-CoV-2 depositadas no banco de dados internacional GISAID, procurando os tipos de mutações que possam ter sido causadas pelo Molnupiravir. Em vez de induzir mudanças aleatórias no genoma de RNA do vírus, é mais provável que a droga cause substituições específicas de ácidos nucleicos, com a troca de guanina por adenina e citosina por uracila.
Esse e outros estudos realizados não fecham o resultado que a droga está de fato causando o surgimento de novas variantes perigosas do SARS-CoV-2. Porém, esse benefício limitado do medicamento pode sugerir não ser compensatório seu uso, dados os riscos eminentes.
Em nota, a fabricante do medicamento se pronunciou, alegando que não há provas correlacionadas o suficiente para se fazer a ligação direta entre o Molnupiravir e as mutações do Coronavírus, alegando que essas acontecem de forma natural.