Telematriciamento na Atenção Primária

O Mercado de saúde brasileiro está passando por uma grande transformação, especialmente na saúde suplementar. A Atenção Primária tem ganhado cada vez mais espaço e operadoras têm buscado modelos sustentáveis para reencontrar o equilíbrio econômico financeiro, garantindo atendimento de qualidade para a população assistida.
Todavia, em alguns casos, essa transformação não está pautada em modelos interessantes. Tenho observado quase um desespero na construção de modelos que só visam economia financeira, sem preocupação com resultados assistenciais. Devemos ficar muito atentos, pois atenção primária não é sinônimo de atendimento por médico de família! A estratégia é muito mais ampla e complexa!
Por outro lado, há estratégias de sucesso que têm chegado a resultados maravilhosos! Uma delas é o matriciamento. No I Simpósio Internacional de Atenção Primária que aconteceu em Barretos esse final de semana foi apresentado o case de sucesso da Fundação Pio XII. O matriciamento é realizado em parceria com a equipe do Ambulatório Médico de Especialidades e tem contribuído para que a Atenção Primária da instituição chegasse a alcançar taxa de resolutividade de 88% no último ano.
A EuSaúde também desenvolve programa de matriciamento com a atenção primária. Diferente do modelo de Barretos, atuamos através de plataforma digital e realizamos o telematriciamento! Com essa plataforma, conseguimos levar atendimento de diferentes especialidades médicas a regiões que antes tinham dificuldade de acesso a esses especialistas. Além disso, o telematriciamento cumpre uma tripla função:
1) Diminui o tempo de espera de pacientes por consultas com outras especialidades médicas.
Pacientes que antes seriam encaminhados para outros especialistas e teriam um longo tempo de espera para nova avaliação (correndo, inclusive, o risco de ficarem “perdidos”na rede de saúde), agora têm seus casos conduzidos pelo seu médico de referência com a colaboração do médico de outra especialidade!
2) Aumenta o vínculo do paciente com sua equipe.
Como a maior parte das questões de saúde podem ser resolvidas pelo próprio médico de referência do paciente, a relação médico-paciente fica ainda mais estreita! O paciente se sente mais seguro ao saber que suas condições continuarão sendo acompanhadas pelo médico que o acompanha e conhece seu contexto social, familiar e de saúde.
3) Aumenta a resolutividade da atenção primária
O telematriciamento também é uma ferramenta de educação continuada em que há grande troca entre as duas especialidades médicas envolvidas: a medicina de família e comunidade e a outra especialidade (cardiologia, endocrinologia, reumatologia, etc). Assim, com a discussão dos casos, ocorre também o aprendizado e o desenvolvimento de novas habilidades pelos profissionais envolvidos, de modo que casos que antes eram encaminhados, passam a ser resolvidos pela própria equipe de saúde do paciente.
Na prática, o telematriciamento funciona assim: o médico de família seleciona os casos que ele gostaria de encaminhar para determinada especialidade e, com horário marcado, o outro especialista o atende e discute os casos, opinando sobre as condutas adequadas a cada situação. Caso cheguem à conclusão de que o caso poderá continuar sendo acompanhado na atenção primária, o paciente não é encaminhado ao outro especialista. Já se concluírem que o caso exige uma avaliação mais minuciosa, o encaminhamento do paciente é mantido, mas há o compromisso da contra-referência para que o paciente não fique solto na rede!
Nossos resultados mostram que a imensa maioria dos casos é resolvida através das discussões promovidas pelo matriciamento, evitando o encaminhamento desses pacientes e aumentando sua satisfação com o programa! A tecnologia, quando usada de forma consciente e com embasamento técnico é uma grande aliada dos modelos de cuidado continuado!