TELESSAÚDE E SAÚDE DIGITAL

A telessaúde e a saúde digital são termos bastante amplos, que englobam uma série de serviços e estudos que visam ensino, coleta, análise, execução do cuidado e acompanhamento da saúde, desde um paciente até grandes populações a distância. Como exemplos desses serviços, podemos citar a análise de dados estatísticos de saúde de um determinado segmento em tempo real (real time data); o uso de dispositivos vestíveis (wearables devices), para um monitoramento mais adequado da saúde do paciente; o matriciamento a distância (telematriciamento); a teleorientação em saúde, e a execução não presencial da consulta médica em si (telemedicina). De acordo com Victor Lyuboslavsky, em Telemedicin and Telehealth 2.0, “telemedicina é a habilidade de prover aconselhamento médico e tratar o paciente remotamente” (tele=distante). Ele acrescenta: “Ouço muito que a telemedicina é o futuro. Sim, concordo. Mas porque a telemedicina não é o presente? Por que você, como um trabalhador médico, não usa o que há de mais novo, prático e inovador para cuidar do seu paciente?”.
A dificuldade em se conseguir mudanças na prática médica e a resistência por parte de alguns profissionais e órgãos existe, mas por que não iniciar uma forma de cuidado mais acessível a todos, que já conta com a tecnologia necessária e com diversos estudos que evidenciam que a telemedicina oferece assistência de qualidade? Se nós podemos conectar uma pessoa a outra ao redor do globo a qualquer momento, certamente podemos conectar um paciente a seu médico mais eficientemente. Os profissionais precisam de tempo para pensar, checar se seus colegas também estão no âmbito da telessaúde, e o que os pacientes pensam a respeito. Nossa percepção é que embora a maioria dos médicos esteja disposta a realizar atendimentos e orientações à distância, existem ainda muitas dúvidas em relação ao modo como fazer e quando realizar esse tipo de atendimento.
A telessaúde é um conceito amplo que não deve ser reduzido a um aplicativo ou a um único tipo de tecnologia É bem provável que você ouça termos como e-health, visitas virtuais, e telecuidado. Todos eles são termos do âmbito da telessaúde que nós didaticamente dividimos em três grandes grupos:
- Assíncrono (store-and-forward)
- Síncrono (real time)
- Monitoramento remoto (remote monitoring)
No modo assíncrono, o receptor vê o conteúdo momentos depois que o remetente o enviou, como em um sistema de e-mail. Não é necessário que ambos (médico e paciente) estejam ao mesmo tempo conectados para que o cuidado seja estabelecido. O paciente envia exames, história clínica, fotos, relatos diversos, lista de medicação em uso, e depois de algum tempo o médico se põe a par do caso, elabora uma linha de cuidado, e envia a resposta. Embora possa parecer que esta modalidade de exercer medicina seja muito inovadora, é bem provável que você já tenha utilizado este tipo de abordagem com algum médico conhecido, ou mesmo, se você for médico, com algum membro da sua família ou com um amigo. Por outro lado, no modo síncrono (literalmente, ao mesmo tempo), médico e paciente precisam estar juntos online, em tempo real, na mesma
plataforma virtual, para que o cuidado ocorra. Há modo em que as pessoas mais reconhecem o termo telemedicina - quando você conversa com seu médico por telefone está ocorrendo uma consulta em tempo real, ou seja, síncrona e, portanto, médicos estão autorizados a receberem honorários pelo tempo despendido.
A última, mas não menos importante modalidade de telemedicina é o monitoramento remoto. Essa modalidade lida com biosensores que podem ser usados por pacientes para uma monitorização contínua de suas condições atuais de saúde. Exemplos desses monitores são os glicosímetros conectados à internet; dispositivos cardíacos como marcapassos, e relógios inteligentes que medem sinais vitais e contam quantos passos a pessoa caminhou naquele dia. Apesar de mais incipientes, esses dispositivos mostram ser muito promissores e prometem uma revolução no modo como monitoramos nossa saúde. Contudo, apesar de todos os avanços, é importante ressaltarmos que também há limitações em todos esses métodos de monitoramento,
como por exemplo
- Rede de banda larga ruim ou ausente em localidades mais afastadas.
- Exigência de investimentos em plataformas de telemedicina que cumpram a LGPD e sejam integradas ao prontuário.
- Treinamento do corpo clínico e mudança de rotina dos profissionais.
- Dificuldade em estabelecer limites (de horário e financeiros no atendimento à distância.
- Exame físico limitado (por enquanto).
- Falta de habilidade do paciente no uso dos meios digitais.
- Definição de quando converter a consulta para o modo presencial.
Toda essa tecnologia e diversidade de plataformas que estão a serviço do cuidado levam a crer que a medicina passará – e já está passando, por grandes e profundas transformações nos próximos anos. Unidades de Pronto Atendimento provavelmente terão menos pacientes, já que muitos poderão ser monitorados em casa e serem encaminhados ao atendimento presencial apenas em caso de real necessidade. O atendimento ficará mais ágil e mais barato, permitindo que o governo e operadoras de saúde gastem menos com cada paciente. O paciente terá mais facilidade de acesso à saúde devido ao fato de não ter que se deslocar, o que pode implicar um cuidado mais próximo e mais frequente da saúde do usuário.
